O tecido social do Brasil está se
esgarçando - e rapidamente. A imagem é tão gasta quanto as erodidas relações
interpessoais e institucionais entre os brasileiros. Pesquisa Ipsos-Ipec mostra
que todas as 20 instituições avaliadas perderam algum grau de confiança da
população de 2024 para 2025. Dos bombeiros aos partidos políticos, sem exceção.
Mas não foram só as instituições.
No último ano, os brasileiros
perderam também parte da confiança que depositavam em seus compatriotas, em
seus vizinhos, em seus amigos e até em familiares. Os resultados da pesquisa
são alarmantes. Além de não se restringir à política, a desconfiança cresceu
ampla e intensamente. Ela se espalhou por todo tipo de relação social, da
delegacia ao banco, da escola ao hospital. Da rua à casa.
O Ipsos-Ipec transforma a
pesquisa em três índices: 1) confiança nas instituições, 2) confiança em
pessoas e grupos sociais e 3) a média dos dois anteriores, chamada de Índice de
Confiança Social (ICS).
O ICS caiu 4 pontos de 2024 para
2025. As últimas vezes em que houve uma queda desse tamanho foram em 2018 (ano
da eleição de Bolsonaro) e em 2015 (ano dos protestos contra Dilma, que levaram
ao impeachment no ano seguinte). Queda maior do que 4 pontos só houve uma vez,
em 2013 (ano dos protestos em massa, quando caiu 7).
Também caiu 4 pontos o indicador
de confiança restrito às 20 instituições avaliadas: de 60 para 56 pontos numa
escala de 0 a 100, em que zero equivale a total desconfiança, e 100, a
confiança absoluta.
O indicador de confiança
interpessoal avalia a confiança em pessoas da própria família do entrevistado,
em seus amigos, em seus vizinhos e nos brasileiros em geral. Na média,
confiança interpessoal caiu 3 pontos. As únicas quedas equivalentes aconteceram
em 2020 na pandemia (de 67 para 64 pontos) e nas jornadas de 2013 (de 70 para
67 pontos).
A queda da confiança foi de 3
pontos em pessoas da família, de quatro pontos (65 para 61) nos amigos, de 2
pontos nos vizinhos (de 57 para 55) e de 3 pontos (54 para 51) nos brasileiros
em geral.
As mudanças foram em sentido
oposto para ricos e pobres. A confiança interpessoal entre pessoas das classes
de consumo D e E foi na contracorrente e aumentou 2 pontos desde o ano passado
(60 ara 62). Já nas classes A/B e C, caiu 4 pontos.
No médio prazo, a tendência é de
queda da confiança para todos os grupos sociais e para a grande maioria das
instituições. Nos últimos 15 anos, a confiança em pessoas da família, por
exemplo, caiu de 91 para 79 (menos 12 pontos). Nos meios de comunicação, a
perda foi ainda maior, de 71 para 54 pontos (menos 17 pontos).
O Ipec faz a pesquisa anualmente
desde 2009. O instituto pergunta a uma amostra representativa da população
brasileira adulta se tem "muita confiança", "alguma
confiança", "quase nenhuma confiança" ou "nenhuma confiança"
em cada uma das instituições e grupos de pessoas. As respostas são
transformadas em índices, não são percentuais.
Pode-se dizer que quando o índice
de uma instituição cai abaixo de 50, ela provoca mais desconfiança do que
inspira confiança na população. Até o ano passado, apenas quatro instituições
haviam cruzado esse limiar: presidente da República, sindicatos, Congresso
Nacional e partidos políticos. Em 2025, somaram-se ao grupo sub-50 o Poder
Judiciário e o governo federal.
Porém, a queda foi geral. Mesmo
instituições nas quais os brasileiros confiam mais do que desconfiam sofreram
desgaste grande: 7 pontos a menos para organizações da sociedade civil, 6
pontos a menos para polícia, empresas e bancos, por exemplo.
A perda de confiança nas
instituições é perigosa para a democracia. Estudo apresentado no congresso
mundial de opinião pública por Marcia Cavallari, diretora do Ipsos-Ipec, revela
que existe uma forte correlação entre confiança institucional e satisfação com
o sistema democrático.
A Justiça eleitoral, o Poder
Judiciário e o presidente da República estão entre as instituições cuja
descrença influencia mais negativamente o que os brasileiros pensam do regime
democrático. Perda de confiança nelas é especialmente perigosa para a satisfação
com a democracia e, logo, para a estabilidade do país.
Com Portal UOL
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