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28 março 2025

SURGE UMA ESPERANÇA: Tecnologia com ultrassom reduz 70% dos tremores do Parkinson em uma sessão


 

Na semana passada, a chegada de uma nova tecnologia ao país foi das mais felizes para quatro pacientes que mal controlavam os movimentos de tanto que tremiam. Eles saíram do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, praticamente sem esse sintoma e isso apenas poucas horas depois de passarem por um procedimento de vanguarda, cujo efeito foi imediato. Sem furos, sem cortes, sem anestesia geral.

 

Uma das pessoas tinha Parkinson e as outras três, tremor essencial, condição neurológica de fundo genético que pode aparecer em qualquer idade e que acomete principalmente os membros superiores.

 

O que os médicos do Einstein fizeram foi uma terapia ablativa. É assim que dizem quando destroem — queimam mesmo — determinado ponto de um órgão usando algum tipo de energia. Só que, no caso, o tal órgão era "apenas" o cérebro. E a energia? O som. Ou, mais precisamente, o HIFU, de "high intensity focused ultrasound". Traduzindo, ultrassom focado de alta intensidade.

 

Ele vinha sendo usado para resolver problemas em outros órgãos, cujo acesso é bem mais simples. "A gente já lança mão do HIFU para tratar câncer de próstata e mioma de útero", exemplifica Rodrigo Gobbo, diretor do Centro de Medicina Intervencionista do Einstein. Mas o cérebro, sob a armadura da calota craniana, parecia inalcançável.

 

No ponto exato


"O osso, assim como o vácuo, é uma barreira natural à propagação de ondas sonoras", diz Gobbo, forçando a lembrança de uma das leis da Física. Segundo ela, o esperado seria o ultrassom bater no crânio e, feito uma bolinha de fliperama, ser desviado.

 

A proeza da empresa israelense Insightec, representada pela Strattner em nosso país, foi desenvolver ao longo de 15 anos de pesquisas uma tecnologia capaz de fazer com que as ondas de ultrassom, emitidas por nada menos que mil transdutores minúsculos espalhados por um capacete, convirjam todas para um único ponto. Qualquer mínimo desvio é corrigido.

 

"Mesmo assim, por pura precaução, antes de cogitar o procedimento realizamos uma tomografia computadorizada para checar a espessura do osso do crânio", conta Gobbo. "Mas a terapia é tão avançada que é muito improvável alguém ser excluído por causa disso."

 

As imagens são analisadas e os algoritmos calculam onde as ondas precisam parar. E, no caso, elas precisam parar exatamente no VIM, o núcleo ventral intermédio, que fica na região cerebral do tálamo. Pouco maior que um grão de arroz, ele é o endereço em comum dos tremores do Parkinson e do tremor essencial.

 

Não há erro de rota porque, o tempo todo, o procedimento está sendo realizado com o paciente — e seu capacete — dentro do equipamento de ressonância magnética. "Ela é o melhor método para mostrar detalhes do sistema nervoso central", justifica o doutor Gobbo.


Um desenho de caracol

 

A neurologista Polyana de Toledo Piza, gerente médica do Programa de Neurologia do Einstein, conta que já se tentou usar outras técnicas de ablação para alcançar o VIM. "Mas a enorme vantagem do HIFU é que o paciente fica acordado o tempo inteiro e, com isso, a gente consegue fazer um teste reversível, com baixa energia, só para checar se as ondas do utrassom estão focadas no lugar certo. Como vejo isso? Aumento um pouco a temperatura e peço para o paciente ligar dois pontos em linha reta ou fazer o 'caracol do tremor', por exemplo", explica.

 

A médica se refere a um desenho de um labirinto em forma de caracol que ela passa em uma prancheta com caneta por cima do paciente, que está deitado dentro do equipamento de ressonância, vestindo o capacete do HIFU. "Se ele continuar tremendo, não conseguirá a caneta irá fazer um ziguezague, sem acompanhar direito esse labirinto", descreve a neurologista.

 

Outra preocupação é a energia não bater, sem querer, em outras áreas nobres do cérebro. "Bem ali, por perto, há uma estrutura chamada cápsula interna, por onde passam todas as fibras motoras. Ou seja, se eu for um pouquinho mais para o lado, posso diminuir a força ou alterar a fala do paciente." Calma, se isso acontecer, será só naquele momento no qual os neurônios ficarão inativos. "Tirou o ultrassom e eles logo voltam ao normal", garante a doutora.

No entanto, se os tremores estiverem melhorando, ela continuará aumentando a temperatura até obter o melhor resultado. E, só então, fará a lesão irreversível. E, não, a pessoa não sente nada. Vá lá, alguns relatam uma leve tontura na hora agá.


Com UOL

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